Estudo Dinâmico do EvangelhoSegunda ediçãoAmílcar Del Chiaro Filho
Capítulo XIV - A Multiplicação dos Pães e Peixes – Outras PassagensEm Mateus 14:13-21 — Marcos 6:30-34 — Lucas 9:10-17 e João 6:1-14 narram a primeira
multiplicação dos pães e peixinhos. Esta é uma passagem que muitas pessoas aceitam sem questionar, porque aceitam milagres. Outros não aceitam de maneira alguma. Como espíritas não acreditamos em milagres, mas também não somos cépticos, por isso vamos examinar alguns ângulos possíveis:
Em primeiro lugar concordamos com
Pastorino, que considera exagero do entusiasmo dos discípulos fixar o número dos que foram alimentados em
5.000 homens, fora as mulheres e as crianças. Sem nenhuma base para o cálculo vamos considerar hipoteticamente que no total havia
8 ou 10 mil pessoas. É verdadeiramente um exagero, se considerarmos que as aldeias teriam poucas centenas de habitantes, seria necessário esvaziar inúmeras aldeias e não se chegaria ao número astronômico, já citado.
Entre os fenômenos mediúnicos existe o
"transporte". Ou seja, os espíritos transportam objetos de fora para dentro da sala de reunião, mesmo com as portas fechadas. Há, também, o fenômeno de
materialização. O objeto transportado se materializa no local. Examinemos o transporte. Os espíritos subordinados a Jesus poderiam transportar os pães e peixinhos fritos até o local. Mas de onde tirariam. O pão era feito pela dona de casa para o
consumo de uma semana. Se houvesse estabelecimentos para vender pão, certamente os proprietários sofreriam grande prejuízo, assim como as famílias, que ficariam sem o pão da semana.
Consideremos que os espíritos assistentes do Mestre, utilizassem a matéria disseminada no espaço e materializassem os pães e peixinhos. Isto tem sido feito em pequena escala nas sessões de materialização, e, sem dúvida, Jesus teria condições de fazer ou mandar fazer em grande escala. Contudo, temos uma solução mais simples: muitas pessoas teriam levado lanches e
estavam escondendo só para si. Com as palavras de amor e fraternidade de Jesus, e o gesto humilde do rapazinho que entregou os seus pães e peixinhos fritos, todos dividiram com todos, o que traziam. Então não houve milagre? Houve sim!
O milagre da fraternidade, da solidariedade.Metaforicamente podemos aceitar que o pão do espírito, a Doutrina ensinada por Jesus, alimenta multidões, e ainda sobra muita coisa, não terminando nunca.
Mateus 14:23-33 — Marcos 6:47-52 e João 6:16-21 narra o episódio em que Jesus anda sobre a água. Para o Espiritismo o fenômeno é facilmente explicado pela
levitação (fenômeno de efeito físico – objetivo). Entretanto há um aspecto interessante. Pedro pede para ir até onde Jesus está e devido as ondas e o vento, se apavora e começa a afundar. Jesus estende-lhe a mão e salva-o Quando atravessamos quadras dolorosas da vida, perdemos a fé, a confiança em nós mesmos, e começamos a afundar. Neste momento surge alguém superior a nós, e estende-nos a mão, impedindo o
nosso naufrágio no mar revolto da vidaJoão, num longo capítulo, narra o que ficou registrado no seu Evangelho, como O Pão da Vida – (texto privativo de João). São 71 versículos, mas vamos nos ater à essência. É um trecho vivo, polêmico e dinâmico do Evangelho. Jesus afirma : Eu sou o pão que desceu do céu.
Eu sou o pão da vida. Mais à frente, do versículo 53 até o 58 Jesus escandaliza os seus seguidores dizendo que quem não comer da sua carne, não saboreá-lo, não teria vida imanente (eterna).
Este trecho do Evangelho fica muito difícil de ser entendido se nos apegarmos à letra. Mas, se ficarmos no
simbólico, não fica tão difícil. Certamente, Jesus não se referia ao seu corpo de carne, ou ao seu sangue, mas sim, ao
corpo da sua doutrina. O simbolismo do pão é muito interessante.
Quando comemos o pão, ele tem que ser, antes, mastigado, depois engolido e passa pelo processo da digestão, e depois de digerido
transforma-se em sangue que circula por todo o corpo, dando vida e vigor a todas as células
Assim deve ser a nossa vivência em relação ao Cristianismo do Cristo, e não dos seus vigários. Ele deve ser assimilado pelo nosso entendimento e fazer parte da nossa vida tão intimamente quanto o sangue do nosso corpo.
Infelizmente, até agora os cristãos tem entendido o cristianismo de forma infantilizada. Paulo de Tarso afirmou a uma das igrejas fundadas por ele, que os alimentava com leite porque não suportariam o alimento sólido. Até hoje, não são muitos os que podem comer o alimento sólido da verdade. Mesmo no Espiritismo são muitos os que ainda tomam a papinha infantil.
Herculano Pires diz que são mamadores das cabras celestes. Pedro de Camargo –
Vinícius – tem pensamento semelhante ao nosso. Assim como o pão nutre o corpo, a Doutrina de Jesus nutre a alma. Assim como o pão precisa ser mastigado, digerido, o pão espiritual precisa ser meditado, entendido
Moisés fez de um povo escravo, por tanto, sem cultura e organização, que só tinha um elo comum a uni-los, a crença monoteísta, uma nação. Mas para isto, deve combater hábitos arraigados no íntimo deste povo, e dar-lhe, até mesmo, noções de justiça, responsabilidade, higiene. Para que seus preceitos fossem aceitos obedecidos mais facilmente, ele afirmava que eram divinas, ou seja, ordenação do próprio Jeová..
Vamos dar um exemplo fácil de ser entendido. O povo judeu guerreou com muitos inimigos, e todos esses exércitos que enfrentaram o povo de Moisés, arrastavam atrás de si, grupos de prostitutas e jogadores, mais uma ralé de desocupados. A promiscuidade e a sujeira era muito grande, o que provocava doenças, como desintiria, e infecções nos ferimentos, enfraquecendo e provocando a morte de muitos soldados.
Com o exército hebreu não acontecia isto, porque era proibida a permanência e mesmo a visita de prostitutas e jogadores no acampamento. Por determinação religiosa nenhum judeu podia partir o pão sem lavar as mãos, para as suas necessidades naturais, como defecar, o soldado trazia como parte do seu equipamento uma pazinha, para cavar um buraco na terra, fazer as suas necessidades e cobri-la com a terra. Para reforçar esse preceito religioso, Moisés afirmava que Jeová visitava o acampamento durante a noite e não deveria pisar em excrementos humanos. Lavar as mãos para partir o pão e fazer as refeições, era medida higiênica, reforçada como mandamento religioso.
Em Mateus 15:1-11 e Marcos 7:1-10 vem relatada a querela levantada pelos fariseus, porque os discípulos de Jesus comiam sem lavar as mãos. Jesus admoesta os fariseus, dizendo que eles obedeciam preceitos de homens e com isso se desobrigavam de seguir os preceitos morais ou divinos, como o de amparar os pais na velhice.
O Mestre tem uma colocação mais viril quando afirma que não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai da boca, porque procede do coração.
Na seqüência, os discípulos informa ao Mestre que os fariseus ficaram escandalizados com sua colocação sobre o comer sem lavar as mãos, e Jesus faz outra severa admoestação, dizendo: Toda planta que o Pai Celestial não plantou será arrancada.
O ensinamento sobre a contaminação pelo que sai pela boca e não pelo que é ingerido, é de fácil entendimento, e mais fácil fica, ao sabermos que havia vários alimentos proibidos aos judeus, além da proibição taxativa de não tocar os alimentos com as mãos por lavar.
Do coração (simbolicamente), procedem os adultérios, homicídios, prostituições, corrupções, mentiras, calúnias, furtos, etc.
Pastorino, na sua abordagem
esotérica esclarece que não é somente os alimentos ingeridos que não contaminam o homem,
mas tudo que vem de fora. Vejamos o que ele diz: Não é apenas o alimento ingerido ou as bebidas, mas nem mesmo as vibrações mentais de outras criaturas, nem pensamentos externos, nem acusações caluniosas, nem ataques físicos ou morais: imperturbável em sua paz intrínseca e profunda, o
eu-maior sobreestá a tudo, pairando em outra atmosfera. O que vem de dentro contamina o homem, isto é, o que vem do coração (sentimento). Todo pensamento criado pelo espírito, antes de atingir o alvo,, atravessa a aura de quem pensa e nela imprime as suas vibrações.
O que sai do coração que pode contaminar o homem, pode ser atos cometidos, palavras (vibrações sonoras), e pensamentos (vibrações mentais).
Pastorino enumera duas listas de atos ou simples desejos, dos quais, destacaremos alguns:
adultérios ou desejos sexuais, (com o ato material realizado, ou não), em relação a uma outra pessoa comprometida com outra.
Prostituição ou desejos sensuais ou atos sexuais que não estejam fundamentados no amor.
Furtos de qualquer espécie: físicos ou intelectuais, ( de idéias de outrem, fazendo passar por suas
Lucas em 6:39 põem na boca de Jesus essas palavras:
por ventura pode um cego guiar outro cego? Não cairão ambos no barranco? Jesus falou tal coisa em referência aos cegos do conhecimento espiritual, e que,
pretensiosamente, se intitulam guias da humanidade. O destino do guia, e dos guiado, é o barranco. O que significa que sofrerão as conseqüências das ignorância. Há guias de médiun e de centros espíritas que se enquadram nesse ensinamento. São cegos espirituais guiando outros cegos. E todos rumam para o barranco, onde cairão, se não lhes forem abertos os olhos.
Em Mateus 16:13-20 Marcos 8:27-30 e Lucas 9:18-21 encontramos uma passagem muito interessante porque suscita vários ensinamentos. É quando Jesus, em conversa aberta com os discípulos, pergunta o que o povo fala sobre ele, quem pensam que ele é. Os discípulos citam vários personagens, incluindo Elias, Jeremias,
deixando claro que conheciam a lei da reencarnação, pois os dois viveram muitos séculos antes de Jesus. Estranhamente, citaram, também, João O Batista, pois eram contemporâneos.
Jesus indaga diretamente os discípulos: e vós, que dizeis que sou? Pedro adianta-se aos demais e responde que ele é o Cristo (Messias). Jesus elogia Pedro, chama-o de bem-aventurado, por que não foi a carne e o sangue que te revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Depois Jesus afirma que fundará a sua igreja sobre os ombros de pedra. Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja. A seguir as palavras: Tudo que ligares sobre a Terra será ligado no céu. A igreja Católica Apostólica Romana aproveitou essas palavras para criar alguns dogmas. Vamos examinar Pastorino e depois Rohden.
Pastorino levanta a suspeita de
interpolação (acréscimo) porque a igreja criou as prerrogativas dos sacerdotes de perdoar pecados ou condenar e também a instituição do papado. Para a Igreja Jesus deu investidura a Pedro, que por herança passou a seus sucessores. Essa posição foi veementemente combatida e foi imposta pela força das armas dos Imperadores Romanos, que no ano
369 estabeleceu Dâmaso, Bispo de Roma, como juiz e soberano de todos os bispos.Pastorino faz uma longa exposição sobre a palavra
"ekklesia", comumente traduzida por igreja, e apresenta mais de uma dezena de significados possíveis, inclusive
"aprisco", porém, opta pela palavra
"comunidade", já que o Mestre pregava em praça pública, nas praias, montes ou nas casas de amigos. Diz ele que em hipótese alguma a palavra grega ekklesiapode corresponder ao que se conhece hoje por igreja.
Quanto ao Hades, em hebraico,
Sheol, designava a habitação dos desencarnados, astral inferior, (umbral) . Os latinos chamavam de "lugares baixos", ínferus, mas que nada tem a ver com o atual sentido de inferno. Ilustra o autor com uma passagem de
Vergalho (Eneidas 6-106 onde
o poeta conta que Enéas penetrou as "portas do Hades" inferni janua, encontrando ali os romanos mortos que aguardavam a reencarnação.As chaves representam autoridade e já aparece no Velho Testamento (Isaias 22:22) e também Apocalipse 3:7 – refere-se a quem possui a chave – o que abrir fica aberto – o que fechar fica fechado.
Pastorino não aceita a tradução comum – "o que ligares ou o que desligares", mas sim, abrir e fechar. Pastorino recorre a Clemente Romano, bispo entre 100 e 130, em Roma, que diz que tendo Jesus dado as chaves do Reino dos Céus a Pedro, e disse: "o que abrires fica aberto; o que fechares fica fechado".. Ligar e desligar, diz Pastorino, refere-se mais ao perdão. Quando perdoamos, desligamos, quando não perdoamos mantemos os laços de ódio, vingança, rancor com os adversários. Desliga-se perdoando. Desligar (perdoar), na Terra, à caminho com o adversário, será ratificado no mundo espiritual.
Carlos Torres Pastorino afirma que
houve transferência do versículo 18 do Capítulo 18 para o versículo 18 do capítulo 16, de Mateus, já que Marcos e Lucas não fazem tal citação. Marcos, possivelmente sobrinho de Pedro, mas certamente seu
tradutor nas pregações, já que Pedro
só falava o aramaico, ouviu os ensinamentos de Jesus da boca do apóstolo, se essas palavras tivessem sido pronunciadas por Jesus, em relação a Pedro, certamente Marcos saberia.
OBS. Não é admirar essa observação de Pastorino, porque encontramos num
opúsculo de Pinheiro Martins, algumas transposição de textos. O autor conta que uma criteriosa tradução da Bíblia para o inglês — a
New English Bible — feita por homens especialista no assunto, informam que encontraram 30 mil erros de tradução e mais de 2000 interpolações (Interpolação significa, alteração feita no texto, colocando-se neles palavras ou frases que antes não existiam)
continua