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 A INTOLERÂNCIA E A PERSEGUIÇÃO EM RELAÇÃO AO ESPIRITISMO.

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VICTOR PASSOS
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MensagemAssunto: A INTOLERÂNCIA E A PERSEGUIÇÃO EM RELAÇÃO AO ESPIRITISMO.   A INTOLERÂNCIA E A PERSEGUIÇÃO EM RELAÇÃO AO ESPIRITISMO. Icon_minitimeTer Mar 04, 2008 11:33 am

REVISTA ESPIRITA JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS COLETÂNEA FRANCESA

PUBLICADA SOB A DIREÇÃO DE

ALLAN KARDEC

DECIMO PRIMEIRO ANO- l868



A INTOLERÂNCIA E A PERSEGUIÇÃO EM RELAÇÃO AO ESPIRITISMO.



O fato seguinte nos foi assinalado por um de nossos correspondentes. Calamos, por conveniência, o nome do lugar onde se passou, mas, caso necessário, temos a peça justificativa nas mãos.

O cura de.....tendo sabido que uma de suas paroquianas tinha recebido O Livro dos Espíritos, veio procurá-la em sua casa e lhe fez uma cena escandalosa em apostrafando-o de epítetos muito pouco evangélicos; ameaçou-a, além disto, de não enterrá-la quando ela morresse, se ela não acreditasse no diabo e no inferno; depois, apoderando-se do livro, levou-o.

Alguns dias depois, essa senhora, que aquele insulto havia muito pouco tocado, foi à casa do padre pedir-lhe seu livro, dizendo a si mesma que, se não o restituísse, não era difícil de se proporcionar um outro, e que ela saberia muito bem colocá-lo em lugar seguro.

O livro foi restituído, mas num estado que provava que uma santa cólera tinha se descarregado sobre ele. Estava maculado de rasuras, de anotações, de refutações, onde os Espíritos eram tratados de mentirosos, de demônios, de estúpidos, etc. A fé dessa senhora, longe de ser abalada, não ficou senão mais fortalecida. Prende-se, diz-se, mais moscas com mel do que com vinagre; o padre lhe apresentou o vinagre, ela preferiu o mel, e disse a si mesma: Perdoai-lhe, Senhor, porque ele não sabe o que faz. De que lado estava o verdadeiro cristianismo?

As cenas dessa natureza eram muitos freqüentes há sete ou oito anos, e tinham, às vezes, um caráter de violência que tendia ao burlesco. Recorda-se aquele missionário que espumava de raiva pregando contra o Espiritismo, e se agitava com tanto furor que se temia um instante que caísse no púlpito. E esse outro pregador que convidava todos os detentores de obras espíritas a traze-las para colocá-las no fogo, na praça pública. Infelizmente para ele não lhe foi levada nenhuma, e se as indenizava queimando no pátio do seminário todas aquelas que se pôde proporcionar nas livrarias. Hoje que disso se reconheceu a inutilidade e os inconvenientes, essas demonstrações excêntricas são muito raras; a experiência provou que elas mais desviaram da Igreja do que do Espiritismo.

O fato acima narrado tem um caráter de uma gravidade particular. O padre, em sua igreja, em sua casa, sobre seu terreno; dar ou recusar preces segundo a sua consciência, está em seu direito, dele usa, sem dúvida, às vezes, de maneira mais nociva do que útil à causa que defende, mas, enfim, ele está em seu direito, e achamos ilógico que pessoas que são, de pensamentos senão de fato, separadas da Igreja, que não cumprem nenhum dos deveres que ela impõe, tenham a pretensão de constranger um padre afazer o que, certo ou errado, ele considera como contrário à sua regra. Se não credes na eficácia de suas preces, por que isto exigir dele? Mas, pela mesma razão, ele ultrapassa o seu direito quando se impõe àqueles que não o pedem. No caso de que se trata, que direito tinha esse padre de ir violentar a consciência dessa senhora em seu próprio domicílio, e ali fazer uma visita inquisitorial, e se apoderar daquilo que não lhe pertencia? O que ganha a

religião com esses excessos de zelo? Os amigos inábeis são sempre nocivos.

Esse fato, em si mesmo, é de pouca importância, e não é, em definitivo, senão um aborrecimento que prova a estreiteza das idéias de seu autor; não teríamos dele falado, se não se ligasse a fatos mais graves, às perseguições propriamente ditas, cujas conseqüências são mais sérias.

Estranha anomalia! Qualquer que seja a posição de um homem, oficial ou subordinado a um título qualquer, não se lhe contesta o direito de ser protestante, judeu ou mesmo nada de todo; ele pode ser abertamente incrédulo, materialista ou ateu; pode preconizar tal ou tal filosofia, mas não tem o direito de ser Espírita. Se ele for suspeito de Espiritismo, como outrora se era suspeito de jansenismo, ele é suspeito; se a coisa for confessada, ele é olhado obliquamente por seus superiores quando estes não pensam como ele, considerado como um perturbador da sociedade, ele que abjura toda idéia de ódio e de vingança, que tem por regra conduzir a caridade cristã em sua mais rigorosa acepção, a benevolência para todos, a tolerância, o esquecimento e o perdão das injúrias, em uma palavra, todas as máximas que são a garantia da ordem social, e o maior freio das más paixões. Pois bem! o que, de todos os tempos e entre todos os povos civilizados, é um título à estima das pessoas honestas, se torna um sinal de reprovação aos olhos de certas pessoas que não perdoam a um homem ter se tornado melhor pelo Espiritismo! Quaisquer que sejam suas qualidades, seus talentos, os serviços prestados, se não é independente, se sua posição não é invulnerável, uma mão, instrumento de uma vontade oculta, pesa sobre ele, o fere, podendo atingi-lo em seus meios de existência, em suas afeições mais caras, e até em sua consideração.

Que coisas semelhantes se passem nas regiões onde a fé exclusiva erige a intolerância em princípio como sua melhor salvaguarda, isso nada tem de surpreendente; mas que tenham lugar num país onde a liberdade de consciência está inscrita no Código das leis como um direito natural, se o compreende mais dificilmente. É preciso, pois, que se tenha muito medo desse Espiritismo que se afeta, no entanto, de apresentar como uma idéia vazia, uma quimera, uma utopia, uma coisa frívola que um sopro da razão pode abater! Se esta luz fantástica não está ainda extinta, no entanto, isso não é por falta de ter soprado em cima. Soprai, pois, soprai sempre: há chamas que se atiçam em soprando em lugar de extingui-las.

No entanto, dirão alguns, o que se pode censurar naquele que não quer e não pratica senão o bem; que cumpre os deveres de sua responsabilidade com zelo, probidade, lealdade e devotamento; que ensina a amar a Deus e a seu próximo; que prega a concórdia e convida todos os homens a se tratarem como irmãos, sem acepção de cultos nem de nacionalidades? Não trabalha ele para o apaziguamento das desavenças e dos antagonismos que causaram tantos desastres? Não é o verdadeiro apóstolo da paz? Reunindo em seus princípios o maior número possível de adeptos, por sua lógica, pela autoridade de sua posição, e, sobretudo, por seu exemplo, não previne dos conflitos lamentáveis? Se, em lugar de um, fossem dez, cem, mil, sua influência salutar não seria nisso muito maior? Tais homens são auxiliares preciosos; jamais o serão bastante; não se deveria encorajá-los, honrá-los? A doutrina que faz penetrar esses princípios no coração do homem pela convicção, apoiada sobre uma fé sincera, não é uma garantia de segurança? Onde se viu, aliás, que os Espíritas fossem turbulentos e causadores de perturbação? Não são eles, ao contrário, sempre e por toda a parte apontados como pessoas pacíficas e amigas da ordem? Todas as vezes que foram provocados por atos de malevolência, em lugar de usar represálias, não evitaram com cuidado o que teria podido ser uma causa de desordem? A autoridade teve que maltratá-los por algum ato contrário à tranqüilidade pública? Não, porque um funcionário, encarregado de manter a ordem, disse recentemente que se todos os seus administradores fossem Espíritas, ele poderia fechar a sua repartição. Há uma homenagem mais característica prestada aos sentimentos que os animam? E a que palavra de ordem eles obedecem? unicamente à de sua consciência, uma vez que não salientam nenhuma personalidade patente ou oculta na sombra. Sua doutrina é sua lei, e essa lei lhe prescreve fazer o bem e evitar o mal; por seu poder moralizador, ela conduziu à moderação homens exaltados, não temendo nada, nem Deus nem a justiça humana, e capazes de tudo. Se ela fosse popular, com que peso não pesaria nos momentos de efervescência e nos centros turbulentos? Em que, pois, esta Doutrina pode ser um motivo de reprovação? Como pode ela chamar a perseguição sobre aqueles que a professam e a propagam?

Admirai-vos que uma doutrina que não produziu senão o bem tenha adversários! Mas não conheceis, pois, a cegueira do espírito de partido? É que jamais considerou o bem que uma coisa pode fazer quando ela é contrária às suas opiniões ou aos seus interesses materiais? Não vos esqueçais de que certos oponentes o são por sistema bem mais do que por ignorância. Será em vão que esperareis conduzi-los a vós pela lógica de vossos raciocínios, e pela perspectiva dos efeitos salutares da Doutrina; eles sabem disto tão bem quanto vós, e é precisamente porque o sabem que não o querem; quanto mais essa lógica é rigorosa e irresistível, mais ela os exaspera, porque ela lhes fecha a boca. Quanto mais se lhes demonstra o bem que o Espiritismo produz, mais eles se irritam, porque sentem que ali está a força; também, devendo salvar o país de maiores desastres, eles o repeliriam apesar de tudo. Vós triunfareis de um incrédulo, de um ateu de boa fé, de uma alma viciosa e corrompida, mas de pessoas deliberadas, nunca!

O que esperam eles com a perseguição? Deter o vôo das idéias novas pela intimidação? Vejamos, em algumas palavras, se esse objetivo pode ser alcançado.

Todas as grandes idéias, todas as idéias renovadoras, tanto na ordem científica quanto na ordem moral, receberam o batismo da perseguição, e isto deveria ser, porque elas feriam os interesses daqueles que viviam das velhas idéias, dos preconceitos e dos abusos. Mas, desde que essas idéias constituíram verdades, é que jamais se viu que a perseguição tenha lhes detido o curso? A história de todos os tempos não está aí para provar que elas, ao contrário, cresceram, que elas se consolidaram, propagadas pelo efeito da própria perseguição? A perseguição foi o estimulante, o aguilhão que as impulsionou para a frente, e fez avançar mais rápido super excitando os espíritos, de sorte que as perseguições trabalharam contra si mesmas, e não ganharam senão serem estigmatizadas pela posteridade. Não se perseguiram senão as idéias às quais via-se um futuro; as que julgavam sem conseqüência, se as deixaram que morressem de morte natural.

O Espiritismo, também ele, é uma grande idéia; deveria, pois, receber seu batismo como seus predecessores, porque o espírito dos homens não mudou, e com ele ocorrerá o que ocorreu aos outros: um crescimento de importância aos olhos da multidão, e, conseqüentemente, uma maior popularidade. Quanto mais as vítimas estão em evidência, pela sua posição, mais haverá ressonância em razão da própria extensão de suas relações.

A curiosidade é tanto mais superexcitada quanto mais a pessoa é cercada de mais estima e de mais considerações; todos querem saber o por quê e o como; conhecer o fundo dessas opiniões que levantam tanta cólera; interroga-se, lê-se, e eis como uma multidão de pessoas, que jamais teriam se ocupado do Espiritismo, são levadas a conhecê-lo, a julgá-lo, a apreciá-lo e a adotá-lo. Tal foi, sabe-se, o resultado das declamações coléricas, das interdições pastorais, das diatribes de toda espécie; tal será o das perseguições; elas fazem mais: elevam-no à classe das crenças sérias, porque o bom senso diz que não se bate em coisas vãs.

A perseguição contra as idéias falsas, errôneas, é inútil, porque estas se desacreditam e caem por si mesmas; ela tem por efeito criar partidários e defensores, e retardar-lhe a queda, porque muitas pessoas as consideram boas, precisamente porque são perseguidas. Quando a perseguição ataca idéias verdadeiras, ela vai diretamente contra seu objetivo, porque lhe favorece o desenvolvimento: é, pois, em todos os casos, uma imperícia que se volta contra aqueles que a cometem.

Um escritor moderno lamentou que não se tivesse queimado Lutero, afim de destruir o protestantismo em sua raiz; mas, como não se teria podido queimá-lo senão depois da emissão de suas idéias, se o tivesse feito, o protestantismo, talvez, teria se propagado duas vezes mais do que não o foi. Queimou-se a João Huss; mas que ganhou com isto o concilio de Constança? de se cobrir com uma mancha indestrutível; mas as idéias do mártir não foram queimadas; elas foram um dos fundamentos da reforma. A posteridade concedeu a glória a João Huss e a vergonha ao concilio. (Revista Espírita, agosto de 1866, página236.) Hoje, não queimam mais, mas perseguem de outras maneiras.

Sem dúvida, quando uma tempestade estoura, muitas pessoas se colocam ao abrigo; as perseguições podem, pois, ter por efeito um impedimento momentâneo à livre manifestação do pensamento; os perseguidores, crendo tê-lo abafado, adormecem numa segurança enganosa; mas o pensamento nela não subsiste menos, e as idéias comprimidas são como as plantas em estufa; elas produzem mais depressa.

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